Adaptando Avaliações de Desempenho para as Metodologias Ágeis

As metodologias ágeis estão revolucionando a maneira como as organizações gerenciam e avaliam as pessoas. Em um ambiente de trabalho que exige flexibilidade e adaptação rápida, a integração das avaliações de desempenho às abordagens ágeis promete não apenas acelerar o processo, mas também torná-lo mais eficiente e alinhado aos objetivos estratégicos de negócios. Este artigo explora como as avaliações das pessoas podem ser integradas às práticas ágeis de gestão, de forma a proporcionar feedbacks mais frequentes e relevantes, contribuindo para o desenvolvimento contínuo das pessoas.

Compreendendo as Metodologias Ágeis

Origens e Princípios

Originalmente desenvolvidas para contextos de desenvolvimento de software, as metodologias ágeis enfatizam a flexibilidade, a colaboração entre equipes e a entrega contínua de valor. Essas metodologias são baseadas em princípios que valorizam a interação entre pessoas, foco na solução ao cliente, colaboração e adaptação rápida às mudanças. Estes princípios podem ser aplicados em diversos contextos que vão além somente do desenvolvimento de software e podem ser extremamente benéficos para os resultados e engajamento de todos os envolvidos.

Promessa dos Modelos Ágeis

O modelo ágil traz uma série de benefícios para as organizações. Em primeiro lugar, destaca-se a agilidade na tomada de decisão, permitindo que as empresas respondam mais rapidamente às mudanças do ambiente. Isso está diretamente ligado à maior adaptabilidade em função de mudanças de contexto, uma vez que as equipes ágeis são capazes de se ajustar e pivotar de forma eficaz. Além disso, o modelo ágil estimula a inovação por meio das trocas e interações constantes entre os membros das equipes, gerando ideias criativas e soluções eficientes para problemas complexos e multidisciplinares. Ao mesmo tempo, o cliente é colocado no centro do processo, garantindo que as entregas atendam às suas reais necessidades e expectativas. 

Impactos na Gestão de Pessoas 

Ao adotar essa abordagem, as empresas promovem o engajamento das pessoas, colocando-as no centro das atividades e proporcionando um papel ativo na resolução de problemas. Isso cria um ambiente de trabalho mais participativo e estimulante, onde as pessoas se sentem valorizadas e motivadas a contribuir. Além disso, a organização baseada na formação de times para solução de problemas facilita uma colaboração mais assertiva e eficiente. Com papéis fluídos e mobilidade das pessoas, os membros das equipes têm a flexibilidade de atuar em diferentes áreas e projetos, o que favorece a dinâmica de trabalho em equipe e contribui para a maximização dos resultados alcançados. Essa abordagem colaborativa e centrada nas pessoas é essencial para o desenvolvimento de um ambiente de trabalho produtivo e inovador.

Mudança de Mindset 

As metodologias ágeis mais do que a introdução de uma nova forma de trabalho, com novos rituais e práticas, é uma mudança de mentalidade e cultura. Paradigmas tradicionais de organização e gestão como comando e controle, hierarquia rígida, foco na conformidade, competição interna, individualismo e foco na entrega são substituídos por um ambiente em que atributos como autonomia, influência, colaboração, liderança situacional, foco no time e no cliente são preponderantes. Esta mudança de mentalidade exige que as pessoas e, principalmente, a liderança adaptem suas formas de trabalho.

Integrando a Avaliação de Desempenho às Metodologias Ágeis 

O Dilema das Avaliações de Desempenho Tradicionais

Já há algum tempo os processos de avaliação de desempenho sofrem duras críticas. Não é por menos que isso acontece. Desenhados a partir de modelos de organização e gestão tradicionais, onde os ciclos de planejamento e execução são longos, acabam se tornando processos burocráticos e morosos, demonstrando pouca agilidade para se adaptarem e acompanharem o ritmo de mudanças do negócio. Com frequência, são vistos como pouco conectados às estratégias de negócios, injustos, subjetivos e pouco transparentes. Além disso, há muitas vezes uma percepção de baixa relação custo x benefício, ou seja, o esforço realizado para rodar as avaliações parece não compensar os resultados obtidos por elas.

Ciclos mais Curtos

A adoção de ciclos de planejamento e execução mais curtos exige que as avaliações das pessoas aconteçam de forma mais frequente, por mais contraintuitivo que possa parecer. Quando modelos ágeis são adotados, as avaliações acontecem em ciclos menores, de 3 a 6 meses e não mais anualmente, como no modelo tradicional.

Simplificação

Para compensar a maior frequência com que as pessoas são avaliadas, deve-se simplificar consideravelmente o processo de avaliação. Isto pode significar reduzir a necessidade de que todos façam as avaliações ao mesmo tempo, preenchendo longos questionários; e passar a adotar um formato mais dinâmico, com feedbacks vindo e sendo solicitados em várias direções e em tempo real. Alguns modelos, por exemplo, permitem que as pessoas ofereçam ou peçam feedbacks sobre competências específicas a cada interação que tiverem em seu trabalho. Estes múltiplos feedbacks são consolidados após um tempo para que se tenha uma visão do desempenho da pessoa em um determinado período.

Uso de Tecnologia

Ferramentas digitais e plataformas de software intuitivas e user friendly viabilizam a implementação, permitindo fácil acesso a feedbacks, acompanhamento de progressos e comunicação eficaz entre equipes. Deve-se desenvolver a capacidade de gerenciamento e análise de dados relacionados ao desempenho das pessoas (people analytics).

Gerir e não só Avaliar

Mais importante do que o registro do desempenho em plataformas, serão as dinâmicas de interação entre os membros da equipe. As metodologias ágeis preveem alguns rituais em que as equipes sentam para conversar como estão indo e o que podem mudar dali para frente. Estes talvez sejam os momentos mais ricos, em que as pessoas podem compreender como estão agregando valor e o que podem melhorar.

Maior Foco no Coletivo

É fundamental que os times ágeis operem no coletivo e com colaboração. Portanto, as avaliações de desempenho devem olhar antes para o time e depois para os indivíduos, por meio do time. Isto significa que muitas vezes é o próprio time que deverá se responsabilizar por dar os feedbacks mais duros e indicar correções de rota individuais. Este talvez seja um dos maiores desafios, pois o pressuposto é que todos estão altamente comprometidos com os resultados e assumem a responsabilidade por suas próprias carreiras e desenvolvimento (auto-gestão).

Metas Flexíveis

Ao invés de metas rígidas estabelecidas anualmente, as metas devem ser definidas e ajustadas em intervalos mais curtos para refletir mudanças nas prioridades e condições de mercado. Isso ajuda a manter os objetivos relevantes e alcançáveis, aumentando o engajamento das pessoas. O modelo de OKR (Objectives and Key Results) é uma excelente abordagem para se gerenciar as metas.

Planos de Desenvolvimento Dinâmicos

Diferente dos modelos tradicionais, onde os planos de desenvolvimento individuais (PDIs) são definidos na perspectiva de um ano inteiro, adota-se na gestão do desempenho ágil uma abordagem dinâmica. Isto significa na prática que os PDIs estão sempre “abertos” à edição, ou seja, a qualquer momento as pessoas podem atualizá-lo com o que é mais relevante para aquele ciclo.

Alinhamento dos Rituais de Gestão de Pessoas

Não basta somente adequar o processo de avaliação de desempenho para o modelo ágil se os outros rituais e práticas de gestão de pessoas estão desenhados para os modelos tradicionais. A forma como as pessoas são selecionadas, decisões sobre carreira, mobilidade interna e mecanismos de  remuneração e incentivos devem ser adaptados a esta nova realidade também. 

Conclusão

Adaptar as avaliações de desempenho às metodologias ágeis é um passo crucial para organizações que desejam não apenas acompanhar o ritmo acelerado das mudanças, mas também fomentar um ambiente de trabalho que valoriza o crescimento contínuo e o desenvolvimento profissional. Ao adotar essa abordagem, as empresas podem esperar não apenas melhorar a eficácia das avaliações de desempenho, mas também aumentar significativamente a satisfação e o engajamento das pessoas.

What’s next

As avaliações de desempenho nos modelos ágeis requer que a organização seja capaz de gerenciar e analisar uma grande quantidade de dados relacionados ao desempenho das pessoas. Longe de ser uma necessidade exclusiva dos processos de avaliação nos modelos ágeis, a construção de capacidades de people analytics é uma demanda emergente para a tomada de decisões estratégicas em gestão de pessoas. O próximo artigo irá desvendar o que é, como está ajudando as organizações e os passos essenciais para que esta prática seja adotada pelas empresas.

Referências Acadêmicas:

  • “Agile Performance Management: Proven Strategies for Continuous Improvement, High Engagement, and Employee Success” de Michael Armstrong. O livro aborda a importância de adotar uma abordagem ágil na gestão de desempenho, enfatizando a necessidade de feedback contínuo, desenvolvimento constante e avaliação eficaz do desempenho. Ele destaca a importância de alinhar os objetivos organizacionais com as metas individuais dos funcionários, promovendo assim um ambiente de trabalho colaborativo e centrado no desenvolvimento pessoal e profissional.
  • “Agile Performance Management: How to Integrate Rapid and Continuous Feedback, Development Planning, and Performance Rating” por Robin Schooling. O livro enfatiza a importância de fornecer feedback constante aos funcionários, permitindo que eles se adaptem e melhorem continuamente. Ele explora estratégias para criar um ambiente de trabalho que promova o desenvolvimento profissional, alinhando as metas individuais dos funcionários com os objetivos organizacionais. A obra também discute técnicas para avaliar o desempenho de forma eficaz e justa, visando aprimorar a produtividade, a motivação e o engajamento dos colaboradores.
  • “The Art of the OKR: How to Drive Change, Build a Successful Team, and Implement Powerful Objectives and Key Results” por Paul R. Niven. O livro explora a metodologia OKR, destacando sua eficácia na definição de metas desafiadoras e mensuráveis, que motivam as equipes a alcançarem resultados excepcionais. Niven oferece insights sobre como criar OKRs eficazes, alinhando-os com a visão e os valores da organização. Ele discute estratégias para monitorar e medir o progresso dos OKRs, garantindo o foco nas atividades que impulsionam o sucesso. A obra também aborda a importância da liderança e da cultura organizacional na implementação bem-sucedida dos OKRs, destacando casos de sucesso e melhores práticas para inspirar e orientar os leitores.

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